segunda-feira, 15 de outubro de 2018

BRINCAR É PRECISO




BRINCAR É PRECISO

Ultimamente, pesquisadores têm se debruçado sobre este tema, demonstrando a grande influencia da brincadeira no desenvolvimento cognitivo social da criança.

As brincadeiras durante a infância não possuem somente o papel de divertimento, elas também contribuem com o desenvolvimento das crianças. O brincar desenvolve a aprendizagem na medida em que a criança passa a ser mais participativa, a usar mais o imaginário.

A constatação de diferentes pontos de vista, essencial ao desenvolvimento do pensamento lógico, está sempre presente no jogo, o que torna essa situação particularmente rica para estimular a vida social e atividade construtiva da criança.

Nos dias de hoje as brincadeiras tradicionais estão sendo deixadas de lado, e dando lugar para a tecnologia. Com os computadores e vídeo games as crianças deixam de interagir com outras crianças para ficarem em frente aos mesmos, se tornando assim crianças mais introvertidas, deixando de interagir com os outros e limitando-se a se descobrirem. As brincadeiras e brinquedos antigos exigem das crianças mais criatividade. Com brinquedos mais simples, elas usam mais a imaginação, estimulando um melhor desenvolvimento cognitivo.

Portanto, a brincadeira é um exercício que contribui para os domínios do desenvolvimento da criança, estimulando assim seus sentidos, usando seus músculos e adquirindo novas habilidades.

Observa-se que desde épocas passadas, as brincadeiras estão presentes na vida das crianças, brincadeiras estas que não tem só a função de divertimento e passatempo, mas tem um grande papel no desenvolvimento infantil. Por serem crianças, talvez seja o principal estímulo que tem para o desenvolvimento do cognitivo e social.

Há um estilo diferente de cada criança no seu modo de brincar, porém, sobre o que devemos nos orientar é sobre o conteúdo desta brincadeira (o que elas fazem quando brincam) e sua dimensão social (se brincam sozinhas ou acompanhadas).

Há maneiras descritivas e evoluções do brincar, e elas estariam divididas em brincar social e brincar não-social.

As crianças que estão sob supervisão de um adulto tendem a desenvolver mais o lado social, e também desenvolvendo brincadeiras em grupo.

A brincadeira mais solitária explora o lado mais cognitivo, construções de habilidades e compreensões do mundo (jogos de fantasia, faz-de-conta, jogos simbólicos, etc.)

O brincar de faz-de-conta têm um grande nível de complexidade cognitiva.

À medida que as habilidades motoras vão se aperfeiçoando, começam-se os jogos funcionais, onde crianças correm, pulam, saltam, etc. (isso se inicia no 1° ano de vida). A criança já na terceira infância (6-9 anos) obtém uma forma de brincar mais impetuosa, envolvendo chutes, lutas, e esse tipo de brincadeira é confundido com um comportamento agressivo.

As crianças que usam a imaginação na brincadeira tendem a cooperar mais com as outras crianças e a ser mais populares e alegres do que as que não brincam assim.

Crianças que assistem muito à televisão costumam não ser incluídas em brincadeiras imaginativas, pelo fato de acostumarem a absorver imagens e não de produzir as imagens próprias. A televisão também influencia muito em jogos de faz-de-conta, pois ao invés da criança basear seu personagem em alguém que ele admire (processo de identificação  com professores, enfermeiras), eles se baseiam nos super-heróis da televisão.

Á medida que elas vão ganhando idade, suas brincadeiras se tornam mais interativas e cooperativas.
Grande parte do brincar não-social (como montar um quebra-cabeças) consiste em promover o desenvolvimento cognitivo, podendo refletir independência e maturidade.

É importante observar o que as crianças fazem, e não apenas se brincam sozinhas ou com outra pessoa. Meninos e meninas brincam de maneira diferente. Enquanto os meninos gostam de brincar em grupos grandes, as meninas são inclinadas à brincadeiras tranquilas e com uma única parceira.

Há de se deixar claro a grande importância do companheiro imaginário.

Estes são mais comuns em primogênitos, meninas e filhos únicos. As crianças assim são capazes de distinguir entre fantasia e realidade, são mais cooperativas, curiosas, assistem à menos TV e têm fluência na fala. O papel deste companheiro imaginário é de companhia, realização de desejos, bodes expiatórios, apoios para situações difíceis, substitutos para os medos da criança, e os ajudam a se relacionar melhor com o mundo real.

O jogo está presente entre aqueles que estudam representações mentais, alguns teóricos como Piaget, Wallon, e Vygotski mostram a importância do jogo para o desenvolvimento infantil ao propiciar a descontração da criança, a aquisição de regras, expressão do imaginário e a apropriação do conhecimento. Os jogos que mais aparecem na fase da educação infantil são os jogos de regras, de construção, os tradicionais infantis e os de faz-de-conta.

São observados ao longo do período infantil 03 sistemas de jogos: o de exercício, o simbólico e o de regras.

O jogo de exercício aparece nos primeiros 18 meses de vida, e envolve a repetição de sequências estabelecidas de ações e manipulações.

O jogo simbólico surge durante o segundo ano de vida, junto com o desenvolvimento da linguagem. A brincadeira de faz-de-conta é inicialmente uma atividade solitária envolvendo o uso de símbolos. A criança ultrapassa a simples satisfação da manipulação, ela vai assimilar a realidade externa ao seu eu, fazendo distorções ou transposições.

O jogo simbólico é usado para encontrar satisfação fantasiosa por meio da compensação, superação de conflitos e preenchimento de desejos.

O jogo de regra predomina entre os 07 e 11 anos. Esse jogo marca a transição da atividade individual para a atividade em grupo, onde se inicia a socialização.

A regra pressupõe a interação de dois indivíduos e sua função é regular e integrar o grupo social.
Alguns classificam os jogos em 04 tipos: os funcionais, os de ficção, os de aquisição e os de construção.

As atividades funcionais representam os movimentos simples, como levantar ou encolher os braços e pernas, pegar objetos, etc.

As atividades de ficção são as brincadeiras de faz-de-conta com bonecas.

Na atividade de aquisição as crianças aprendem vendo e ouvindo, fazem esforço para compreender as coisas, seres, cenas.

As atividades de construção reúnem e combinam objetos entre si. Manipulando e brincando com materiais como bolas e cilindros, montando e desmontando cubos, a criança estabelece relações matemáticas e adquire conhecimentos de física e metafísica, além de desenvolver noções de estética.

Na origem da conduta infantil o social está presente no processo interativo da criança com o adulto que desencadeia a emoção responsável pelo aparecimento do ato da exploração do mundo.

Os jogos são condutas que imitam ações reais e não apenas ações sobre objetos ou uso de objetos. Não há atividades propriamente simbólicas se os objetos não ficam no plano imaginário e são evocados mais por palavras do que por gestos.

Alguns pesquisadores valorizam o fator social, mostrando que no jogo de papéis a criança cria uma situação imaginária, incorporando elementos do contexto cultural adquirido por meio da interação e comunicação. A noção central é que se desenvolve uma “zona de desenvolvimento proximal” em que se diferenciam o nível atual que a criança alcança com a solução de problemas independentes e o nível de desenvolvimento potencial marcado pela colaboração do adulto.

Há dois elementos importantes na brincadeira infantil: a situação imaginária e as regras.

Nos primeiros anos de vida, a brincadeira é a atividade predominante e constitui fonte de desenvolvimento. Ao criar uma situação imaginária por meio da atividade livre, a criança desenvolve a iniciativa, expressa seus desejos e internaliza as regras sociais.

A interação entre as crianças e profissionais de creches potencializam a questão da atividade social. As brincadeiras são aprendidas pelas crianças no contexto social, tendo o suporte orientador de profissionais ou crianças mais velhas.

Portanto, através de referências de diversos autores importantes nesse campo de estudo, pode-se constatar o quão é importante as brincadeiras na fase infantil, pois não possui o resultado só de divertimento, mas também de vários outros aspectos do desenvolvimento humano, em especial o desenvolvimento cognitivo e social.

Nos dias de hoje, os especialistas e pais se dividem na polêmica de permitir ou não os jogos eletrônicos na rotina dos filhos.

O que pode-se dizer é que os games devem auxiliar no desenvolvimento de funções importantes, como o raciocínio lógico, a tomada de decisões e a estratégia.

Se houver, além das brincadeiras tradicionais, a inclusão de jogos eletrônicos em horários estipulados e com linguagem própria para cada faixa etária, sendo que em algumas situações até deverão ter a participação de adultos e pais, o momento não será apenas de diversão, mas também de aprendizado.

É importante reconhecer que existem novas gerações que já vivem ambiente tecnológico onde informações e estímulos são mais intensos que gerações anteriores. Para muitos pais, fica o desafio de acompanhar, entender e ajudar na escolha do que é apropriado, para determinadas idades e para primeiro contato. São eles que devem decidir o quanto a criança pode ser exposta a este tipo de brincadeira, de forma a não comprometer o seu  desenvolvimento físico e cognitivo. Devem inclusive, estimular jogos que envolvam a participação de outras crianças para que haja oportunidade de inter-relacionamento. Proibir não é a melhor solução. A família jogar junto favorece a descontração e intensifica a união.

Algumas empresas responsáveis por estes jogos eletrônicos estão interessadas nestas questões a ponto de investirem fortemente no estudo e pesquisa para conseguir entregar produtos que ajudem e muito na formação da criança de hoje, considerando desde suas capacidades intelectuais até conceitos como ética e cidadania.

A relevância do brincar na vida da criança se mostra na utilização como método terapêutico para o atendimento infantil na clínica psicanalítica contemporânea. A psicanálise à partir de Melanie Klein e depois de Donald Winnicott passou a introduzir no setting terapêutico, o brincar e continua sendo por excelência, a ponte entre o mundo adulto e o mundo da criança. A partir da Psicanálise a criança passou a ser reconhecida como um ser humano com desejos, angústias e fantasias inconscientes e o brincar considerado como um viés para o entendimento da manifestação de determinados  conteúdos e conflitos psíquicos. Nesta dimensão, cabe ao terapeuta a capacidade de auxiliar a criança para classificar seus conflitos, objetivando evidenciar a importância do brincar para a condução do tratamento, discorrendo sobre os principais conceitos que sustentam  a técnica fundamental da associação livre que, na escuta dirigida a criança tem no brincar a sua especificidade.

Assim, o setting terapêutico deve continuar sendo a construção de um espaço onde o brincar, em suas diversidades, seja por excelência o recurso para a escuta da criança em sofrimento psíquico.

Celso Rastini Borges
Psicanalista Clínico Integrativo
@psicanalistacelsorastiniborges

Faça seu agendamento pelo WhatsApp (11)97104-1530