Ultimamente, pesquisadores têm se
debruçado sobre este tema, demonstrando a grande influencia da brincadeira no
desenvolvimento cognitivo social da criança.
As brincadeiras durante a
infância não possuem somente o papel de divertimento, elas também contribuem
com o desenvolvimento das crianças. O brincar desenvolve a aprendizagem na
medida em que a criança passa a ser mais participativa, a usar mais o imaginário.
A constatação de diferentes
pontos de vista, essencial ao desenvolvimento do pensamento lógico, está sempre
presente no jogo, o que torna essa situação particularmente rica para estimular
a vida social e atividade construtiva da criança.
Nos dias de hoje as brincadeiras tradicionais
estão sendo deixadas de lado, e dando lugar para a tecnologia. Com os
computadores e vídeo games as crianças deixam de interagir com outras crianças
para ficarem em frente aos mesmos, se tornando assim crianças mais
introvertidas, deixando de interagir com os outros e limitando-se a se descobrirem.
As brincadeiras e brinquedos antigos exigem das crianças mais criatividade. Com
brinquedos mais simples, elas usam mais a imaginação, estimulando um melhor desenvolvimento
cognitivo.
Portanto, a brincadeira é um
exercício que contribui para os domínios do desenvolvimento da criança,
estimulando assim seus sentidos, usando seus músculos e adquirindo novas
habilidades.
Observa-se que desde épocas
passadas, as brincadeiras estão presentes na vida das crianças, brincadeiras
estas que não tem só a função de divertimento e passatempo, mas tem um grande
papel no desenvolvimento infantil. Por serem crianças, talvez seja o principal
estímulo que tem para o desenvolvimento do cognitivo e social.
Há um estilo diferente de cada
criança no seu modo de brincar, porém, sobre o que devemos nos orientar é sobre
o conteúdo desta brincadeira (o que elas fazem quando brincam) e sua dimensão
social (se brincam sozinhas ou acompanhadas).
Há maneiras descritivas e
evoluções do brincar, e elas estariam divididas em brincar social e brincar
não-social.
As crianças que estão sob
supervisão de um adulto tendem a desenvolver mais o lado social, e também
desenvolvendo brincadeiras em grupo.
A brincadeira mais solitária
explora o lado mais cognitivo, construções de habilidades e compreensões do
mundo (jogos de fantasia, faz-de-conta, jogos simbólicos, etc.)
O brincar de faz-de-conta têm um
grande nível de complexidade cognitiva.
À medida que as habilidades
motoras vão se aperfeiçoando, começam-se os jogos funcionais, onde crianças
correm, pulam, saltam, etc. (isso se inicia no 1° ano de vida). A criança já na
terceira infância (6-9 anos) obtém uma forma de brincar mais impetuosa,
envolvendo chutes, lutas, e esse tipo de brincadeira é confundido com um
comportamento agressivo.
As crianças que usam a imaginação
na brincadeira tendem a cooperar mais com as outras crianças e a ser mais populares
e alegres do que as que não brincam assim.
Crianças que assistem muito à
televisão costumam não ser incluídas em brincadeiras imaginativas, pelo fato de
acostumarem a absorver imagens e não de produzir as imagens próprias. A
televisão também influencia muito em jogos de faz-de-conta, pois ao invés da
criança basear seu personagem em alguém que ele admire (processo de
identificação com professores,
enfermeiras), eles se baseiam nos super-heróis da televisão.
Á medida que elas vão ganhando
idade, suas brincadeiras se tornam mais interativas e cooperativas.
Grande parte do brincar
não-social (como montar um quebra-cabeças) consiste em promover o
desenvolvimento cognitivo, podendo refletir independência e maturidade.
É importante observar o que as
crianças fazem, e não apenas se brincam sozinhas ou com outra pessoa. Meninos e
meninas brincam de maneira diferente. Enquanto os meninos gostam de brincar em
grupos grandes, as meninas são inclinadas à brincadeiras tranquilas e com uma
única parceira.
Há de se deixar claro a grande
importância do companheiro imaginário.
Estes são mais comuns em
primogênitos, meninas e filhos únicos. As crianças assim são capazes de
distinguir entre fantasia e realidade, são mais cooperativas, curiosas,
assistem à menos TV e têm fluência na fala. O papel deste companheiro
imaginário é de companhia, realização de desejos, bodes expiatórios, apoios
para situações difíceis, substitutos para os medos da criança, e os ajudam a se
relacionar melhor com o mundo real.
O jogo está presente entre
aqueles que estudam representações mentais, alguns teóricos como Piaget,
Wallon, e Vygotski mostram a importância do jogo para o desenvolvimento
infantil ao propiciar a descontração da criança, a aquisição de regras,
expressão do imaginário e a apropriação do conhecimento. Os jogos que mais
aparecem na fase da educação infantil são os jogos de regras, de construção, os
tradicionais infantis e os de faz-de-conta.
São observados ao longo do
período infantil 03 sistemas de jogos: o de exercício, o simbólico e o de
regras.
O jogo de exercício aparece nos
primeiros 18 meses de vida, e envolve a repetição de sequências estabelecidas
de ações e manipulações.
O jogo simbólico surge durante o
segundo ano de vida, junto com o desenvolvimento da linguagem. A brincadeira de
faz-de-conta é inicialmente uma atividade solitária envolvendo o uso de
símbolos. A criança ultrapassa a simples satisfação da manipulação, ela vai
assimilar a realidade externa ao seu eu, fazendo distorções ou transposições.
O jogo simbólico é usado para
encontrar satisfação fantasiosa por meio da compensação, superação de conflitos
e preenchimento de desejos.
O jogo de regra predomina entre
os 07 e 11 anos. Esse jogo marca a transição da atividade individual para a
atividade em grupo, onde se inicia a socialização.
A regra pressupõe a interação de
dois indivíduos e sua função é regular e integrar o grupo social.
Alguns classificam os jogos em 04
tipos: os funcionais, os de ficção, os de aquisição e os de construção.
As atividades funcionais
representam os movimentos simples, como levantar ou encolher os braços e
pernas, pegar objetos, etc.
As atividades de ficção são as
brincadeiras de faz-de-conta com bonecas.
Na atividade de aquisição as
crianças aprendem vendo e ouvindo, fazem esforço para compreender as coisas,
seres, cenas.
As atividades de construção
reúnem e combinam objetos entre si. Manipulando e brincando com materiais como
bolas e cilindros, montando e desmontando cubos, a criança estabelece relações
matemáticas e adquire conhecimentos de física e metafísica, além de desenvolver
noções de estética.
Na origem da conduta infantil o
social está presente no processo interativo da criança com o adulto que
desencadeia a emoção responsável pelo aparecimento do ato da exploração do
mundo.
Os jogos são condutas que imitam
ações reais e não apenas ações sobre objetos ou uso de objetos. Não há
atividades propriamente simbólicas se os objetos não ficam no plano imaginário
e são evocados mais por palavras do que por gestos.
Alguns pesquisadores valorizam o
fator social, mostrando que no jogo de papéis a criança cria uma situação
imaginária, incorporando elementos do contexto cultural adquirido por meio da
interação e comunicação. A noção central é que se desenvolve uma “zona de
desenvolvimento proximal” em que se diferenciam o nível atual que a criança
alcança com a solução de problemas independentes e o nível de desenvolvimento
potencial marcado pela colaboração do adulto.
Há dois elementos importantes na
brincadeira infantil: a situação imaginária e as regras.
Nos primeiros anos de vida, a
brincadeira é a atividade predominante e constitui fonte de desenvolvimento. Ao
criar uma situação imaginária por meio da atividade livre, a criança desenvolve
a iniciativa, expressa seus desejos e internaliza as regras sociais.
A interação entre as crianças e
profissionais de creches potencializam a questão da atividade social. As
brincadeiras são aprendidas pelas crianças no contexto social, tendo o suporte
orientador de profissionais ou crianças mais velhas.
Portanto, através de referências
de diversos autores importantes nesse campo de estudo, pode-se constatar o quão
é importante as brincadeiras na fase infantil, pois não possui o resultado só
de divertimento, mas também de vários outros aspectos do desenvolvimento
humano, em especial o desenvolvimento cognitivo e social.
Nos dias de hoje, os
especialistas e pais se dividem na polêmica de permitir ou não os jogos
eletrônicos na rotina dos filhos.
O que pode-se dizer é que os
games devem auxiliar no desenvolvimento de funções importantes, como o
raciocínio lógico, a tomada de decisões e a estratégia.
Se houver, além das brincadeiras
tradicionais, a inclusão de jogos eletrônicos em horários estipulados e com
linguagem própria para cada faixa etária, sendo que em algumas situações até
deverão ter a participação de adultos e pais, o momento não será apenas de
diversão, mas também de aprendizado.
É importante reconhecer que
existem novas gerações que já vivem ambiente tecnológico onde informações e
estímulos são mais intensos que gerações anteriores. Para muitos pais, fica o
desafio de acompanhar, entender e ajudar na escolha do que é apropriado, para
determinadas idades e para primeiro contato. São eles que devem decidir o
quanto a criança pode ser exposta a este tipo de brincadeira, de forma a não
comprometer o seu desenvolvimento físico
e cognitivo. Devem inclusive, estimular jogos que envolvam a participação de
outras crianças para que haja oportunidade de inter-relacionamento. Proibir não
é a melhor solução. A família jogar junto favorece a descontração e intensifica
a união.
Algumas empresas responsáveis por
estes jogos eletrônicos estão interessadas nestas questões a ponto de
investirem fortemente no estudo e pesquisa para conseguir entregar produtos que
ajudem e muito na formação da criança de hoje, considerando desde suas
capacidades intelectuais até conceitos como ética e cidadania.
A relevância do brincar na vida
da criança se mostra na utilização como método terapêutico para o atendimento
infantil na clínica psicanalítica contemporânea. A psicanálise à partir de
Melanie Klein e depois de Donald Winnicott passou a introduzir no setting
terapêutico, o brincar e continua sendo por excelência, a ponte entre o mundo
adulto e o mundo da criança. A partir da Psicanálise a criança passou a ser
reconhecida como um ser humano com desejos, angústias e fantasias inconscientes
e o brincar considerado como um viés para o entendimento da manifestação de determinados conteúdos e conflitos psíquicos. Nesta
dimensão, cabe ao terapeuta a capacidade de auxiliar a criança para classificar
seus conflitos, objetivando evidenciar a importância do brincar para a condução
do tratamento, discorrendo sobre os principais conceitos que sustentam a técnica fundamental da associação livre
que, na escuta dirigida a criança tem no brincar a sua especificidade.
Assim, o setting terapêutico deve
continuar sendo a construção de um espaço onde o brincar, em suas diversidades,
seja por excelência o recurso para a escuta da criança em sofrimento psíquico.
Celso Rastini Borges
Psicanalista Clínico Integrativo
@psicanalistacelsorastiniborges
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